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OUTONO

8naturalinfinito

A chegada das estações mais frias encontra, algumas vezes, ainda aquela vontade de ir, de sair, mas o “tempo” não permite que isso aconteça com tanta frequência ou como gostaria. Chega a época de esticar o guarda-chuva, estirar no sofá, comer as castanhas, acender o fogo na lareira, os dias encurtam e o conforto volta-se para dentro de casa e para dentro de mim.

Este “hibernar” faz parte do ciclo natural da vida, é, também ele, vida.

Nesta altura do ano há magníficos dias de chuva, vento, outono e inverno, com os seus desafios próprios, onde me encontro na “gruta” privada, é aí que devo ficar para me rejuvenescer e poder, na primavera sair em grande, aqui mudo as penas e sacudo as cascas. Nestes tempos acudo aos pensamentos mais escuros e recebo alguns rasgos de relâmpagos selvagens ajudados pelas forças daquela natureza interior mais primária esquecida.

A terra está a lembrar-me de quem sou, na azáfama diária, às vezes esqueço os lugares de onde vim, da junção da terra com o cosmos.

Tenho memórias de uma saudade de algo que não tive, sendo filha da cidade, não tenho “terra” para onde ir nas férias ou nas festas.

Ao sentir estes cheiros próprios da terra em decomposição pelas primeiras chuvas, do nascer dos cogumelos, dos sons dos regatos gelados, do restolhar das folhas caídas com cores exuberantes com que tudo se vai recobrindo após os amarelos secos dos calores do verão, dos aromas a fumo, da comida de tacho reconfortante, do acender as fogueiras, dos animais lá fora nas suas atividades agrícolas constantes, lembra-me do ir à vacaria comprar quartilhos de leite, o estalar das castanhas nas brasas na fogueira na escola primária, o ir “abrir” a cama para os lençóis frescos, lisos e acabados de lavar e passar a ferro após uma noite febril, das mantas quentinhas, ou mesmo um saco de água quente aos pés.

No entanto identifico-me muito com estas memórias, sentires, saberes e sabores, seja pelas conversas na cozinha com as avós seja pelas férias passadas, já em adulta, em terras alheias. Como se pode ver também aqui personificado numa mostra desse tipo de conversas, neste caso, entre chef’s e as aldeãs guardadoras dos saberes e memórias ancestrais.

Lembrar e honrar talvez não seja fácil… simples é…


(foto MJL - 2011)

Luz

Está na hora do acordar nas estações

Os dias encurtam ficando mais escuros

A vida passa à janela e as luzes de dentro acendem-se

Há pássaros que cantam lá fora

A chuva chega e o frio ajuda com o vento

As folhas das árvores caem verdes no chão

E é aí que se enchem com todas as outras cores do arco iris

Como se de uma caixa de aguarelas se tratasse

Prontinha para nos acompanhar na vida

Para cobrir outras folhas em branco com memórias

Enchendo resmas de rimas na imaginação luminosa que mora dentro de nós.

Abrir à luz que sou…. pois é lá que ela mora.

como sempre assino, MJL

 

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