
(MJL - 2013-09-05)
Normalmente, naquele tempo, as raposas ditas “normais” tinham muitas cores para se confundirem com a vegetação, entre o castanho e laranja até ao branco, dependendo da época do ano, podendo assim andar à vontade pelos seus vastos territórios.
Só que esta Raposa era azul, um animal muito raro, ancestral, solitária e matreira. Ora com esta cor azul, durante o dia, seria logo avistada pelo mais míope dos texugos, assim, apenas saía de casa ao cair da noite e regressava mesmo antes de chegarem os primeiros raios de sol da madrugada. Como sabia as horas de partir e regressar ninguém compreende.
Com o seu ar sisudo e decidido, de quem sabe sempre para onde ir, todas as noites, lá ia ela toda lampeira saltitando elegantemente entre carreiros e caminhos invisíveis para outros animais, com os seus sentidos muito apurados, sempre alerta.
Numa noite de lua cheia, durante um dos seus passeios pela floresta encontrou- -me, olhou-me de frente e falou comigo pela voz da consciência e do coração.
- Que fazes aqui a estas horas? - perguntou-me sem rodeios com uma voz imponente - este lugar é meu e este caminho não é para qualquer um.
Eu, na minha inocência de menina respondi - Estou perdida desde esta manhã, não encontro o caminho para o meu lugar. O que me vale é que na minha cesta trago uma merenda para me alimentar e o xaile da minha avó para me aquecer. Vim apanhar cogumelos para fazer remédios para os da minha espécie.
A raposa arrebitou majestosamente, primeiro uma e depois outra das sua irrequietas orelhas que tudo escutam - Desta vez deixo-te passar, partilha a tua refeição, depois mostro-te o caminho de regresso.
Durante a frugal refeição partilhámos mais que alimento, partilhámos conhecimento, trocámos histórias ancestrais.
Na despedida, à beira do caminho meu conhecido, a raposa fez-me prometer que não contaria como e onde tinha tido esta aventura aos demais humanos e que todas a luas cheias a viria visitar.
Até hoje é isso que faço, no local secreto acordado, a cada lua cheia luminosa no alto do firmamento repleto de milhares de outras luzes, encontramo-nos para uma noite bem vívida, acompanhada da cesta com o repasto e o xaile da minha avó para me aquecer, trocamos as vivências de cada uma a cada ciclo lunar é incomensuravelmente místico.
Inspirado numa raposa com quem me cruzei em Cazorla
MJL
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