Numa enorme caverna escura, húmida e fria à beira-mar, chegou um dia uma fêmea enferma com uma cria já independente, voltou a sair para se alimentar para jamais regressar.
Esta pequena, de seu nome Pteropus Jubatus, ficou aos cuidados de uma jovem adulta que tomava conta de todos os petizes durante a noite, quando os seus pais saiam da gruta para se nutrirem e trazerem sustento para elas.

(desenhado a carvão por MJL - 2022)
Pteropus foi sendo alimentada com insetos como as outras crias, mas cedo se percebeu que não era propriamente isso que gostava de comer, maior e mais autónoma começou a sair e a procurar o seu próprio alimento composto de fruta e flores, saborosos e doces.
Os morcegos são frequentemente associados à noite pela sua natureza sombria, mas Pteropus era adotada, nunca se sentira diferente dos restantes habitantes que viviam na mesma gruta.
Gostava de estar na entrada da caverna e preferia o sol que lhe aquecia as agora enormes asas castanhas e o seu pelo hirsuto, à friagem e humidade salgada da noite.
No entanto tinha aprendido com a sua mãe adotiva a utilização de ultrassom e os truques da ecolocalização, além disso, tinha uma excelente visão, audição e olfato, compreendia os golfinhos, baleias e até os submarinos e navios, compreendia o Sol e a Lua, os animais do dia e da noite, fazia a ligação entre o mundo fora e dentro da caverna.
Em noites de lua negra apareciam umas velhas anciãs que vinham dançar à luz das estrelas despindo as sua vestes esfarrapadas e andrajosas mostrando a sua verdadeira essência. Afinal eram jovens donzelas, fadas do submundo cada uma ligada aos elementos.
Havia as de fogo, de ar, de água, de plantas e árvores ancestrais, bem como as dos animais de todas as espécies.
Certo dia, apareceu a mais mítica e ancestral de todas as fadas com uma criança pela mão, uma fada muito pequenina para a idade, morena e de olhos escuros vazios, era cega, por isso não se aterrorizou com a escuridão pois vivia sempre nela.
Esta jovem ainda não tinha descoberto o seu dom natural, era mais ou menos do tamanho da Pteropus. Com o tempo as duas foram-se conhecendo e juntas fizeram uma viagem aos seus interiores, ajudando-se mutuamente.
Descobriram que juntas conseguiam falar com o submundo dos inconscientes de todos os seres com anima tornando-se inseparáveis para todo o sempre.
Há quem jure vê-las sobrevoar os campos e as aldeias, a pequena e luminosa fada montada nas costas da “grande” raposa voadora a rir com gargalhadas encantadas que fazem crescer e florescer as culturas e abençoar as férteis colheitas.
Há quem diga que as árvores onde pousam são as que têm as mais lindas e aromáticas flores e os maiores, mais suculentos e doces frutos, assim, quem as avista considera-se afortunado pois recebe a bênção da abundância e doçura nas suas vidas.
MJL
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