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Dama do Mar

8naturalinfinito

Por entre as rochas, durante a baixa-mar, elevam-se aromas avassaladores das brumas, a fragrância pungente a maresia, algas e a animais de casca dura que habitam estes lugares, que aguentam as ondas mais fustigantes, as marés mais altas e os ventos mais ferozes todo o ano, produzem um odor único.


No aveludado negro do céu incendeiam-se, uma a uma, as luzes das constelações a milhões de anos-luz.


Na primeira lua cheia após o Solstício de Verão, no dia da festa ao sol da Mãe Natureza, durante a menor noite do ano, das águas gélidas e transparentes, à luz da lua, emerge um ser mítico.


A Feiticeira das Águas Salgadas.


Um ser elegante, com cabelos de brancos, adornados com estrelas-do-mar e pérolas, rosto longo, enormes olhos com todas as cores do marinhas, quase transparentes quais águas do mar, protegida no seu manto branco feito da espuma das ondas. Após a chegada às areias ainda cálidas, ergue-se colocando devagar um pé imaculado, cor de pérola e depois o outro…


Todos os anos, neste território, chega com o ventre dilatado, com uma fornalha incandescente prenhe de ovos de dragão, concebidos no âmago ardente da terra. Urrando de dor da separação do parto, cada um é gritado com o amor ao todo, em seguida, gentilmente, coloca-os de mansinho na areia, contêm a sua prole, a sua vida. Ao tocarem o solo libertam colunas de vapor e silvam alegremente com a sensação de chegada. Todas as noites na baixa-mar, retorna para cuida-los, vira-os, rola-os, ouve-lhes as ressonâncias internas.


Aproveita também esse tempo solto e para se passear pela areia, fala com o tempo e lê as rochas com a palma das mãos e com os seus longos dedos de cura e sabedoria ancestral, como se de livros empilhados se tratassem, depositados aqui ao longo de séculos, milhares de anos, folha após folha, pressionando as debaixo, que, por vezes, ficam retorcidas pelos tempos imemoriais.


Todos esperam atentamente por esta noite maga carregada de energia de sortilégios místicos.


As aves, recebem-na com os seus brados felizes, volteando nas correntes de ar, pairando ao seu sabor sem qualquer esforço. As focas aguardam expectantes estes chegares com grande antecipação, é sempre uma grande alegria revê-la, cumprimentam-na com os seus rugidos selvagens sussurrados de boas vindas.


Na madrugada seguinte apenas se pode vislumbrar nas areias o rasto dos seus passos, ocultados e varridos pela cauda do seu manto branco feito da espuma das ondas.


Inspirada nas imagens do mar na Costa Vicentina lugar que frequento amiúde

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