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O Banquete no Jardim Silvestre

8naturalinfinito

Ainda antes do sol nascer

Preparo-me para a travessia que vou fazer

 

Entro no meu barquinho e desço pelo fresco, jovem e turbulento rio

À medida que se alarga torna-se sinuoso e languido, o sol já afasta o frio

 

Já me posso deitar preguiçosamente roçando os dedos pelos salpicos das cristalinas águas verdes deslumbrantes

Ao som lento do motor teco-teco, de olhos fechados, a luz do sol brinca tremeluzindo, entre os ramos verdes das árvores circundantes

 

Ao chegar à foz, troco o frescor da água pelo calor da areia nos pés descalços

Sigo em direção ao mar ondulante sem percalços

 

Pelo caminho encontro o meu velho amigo Salgueiro-Chorão, os ramos afastam- -se, um véu é levantado pelas fadas

E, para minha surpresa, torna-se na mais bela das entradas

 

De lá se pode ver, ao fundo, como numa parede toda a vida do mar

As sereias, ninfas e mouras, juntamente com os golfinhos e baleias, entoam o seu cantar

 

Quem cozinhou nas fogueiras e nos caldeirões, fez a transmutação e alquimia para nós?

É claro, os alimentos foram preparados com muito amor e carinho pelas avós

 

Cada uma com o seu estilo, a Lavínia, nascida no Dia do Teatro, com o xaile ametista pelos ombros, toca piano, com o copo de vinho tinto na mão ensaia o discurso que declama

A Celeste, nascida no Dia das Bruxas, mais tímida e recatada, relembra os seus feitiços e as mezinhas proclama

 

Havia de tudo nesta farta mesa de pedra, enfeitada com musgos viçosos, luxuria de flores com cores luminosas e há luzinhas pelo ar a alumiar

Os aromas misturam-se no ar, as conversas estão a dar que falar

 

Um grupo discute o bem da polis, mais ao longe é o futebol e noutro um qualquer desporto radical

As conversas tornam-se num burburinho de fundo e fundem-se como num tema musical

 

 

Pais, irmãos, tios e primos, convivem com os seus ascendentes

Com as Fadas, Elfos, Reis, Magos, Druidas, Feiticeiras e Gnomos também presentes

 

Nesta farta mesa todos são bem-vindos, desde os animais e plantas, do mar, da terra e do ar

Não importa o que comem habitualmente, aqui, só os vegetais se degustam e se agradecem pela vida que nos dão e continuarão a doar

 

É a abundância em pleno, de alimento para todos os seres, em corpo, espírito e alma

Os cantos encantados dos pássaros, os piares, os arrepiares e as músicas tocadas em instrumentos ancestrais com calma

 

A comida alimenta o corpo dos convivas, alimenta o tudo de todos, com aroma, cor e sabor

À medida que o dia termina aparece o tom laranja do sol pôr

 

O final da festa aproxima-se, os convivas vão-se despedindo e dispersando

Eu decido retirar-me em silêncio, no meu coração tudo guardando

 

Ao sair vejo entrar apressado o coelho sempre atrasado

Debaixo do firmamento observo um universo bem estrelado, ao som dos grilos falantes e pelos pirilampos alumiado

 

Retornada ao meu barquinho, deito-me nas almofadas e mantas fofinhas, como num confortável ninho, no chão

Encerro os olhos de coração cheio de gratidão e deixo-me escorregar para o sonho de uma noite de verão

 

MJL

  

 

inspirado numa aula de Eco-Mitologia de abril de 2024

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