top of page

O Bolbo Misterioso

8naturalinfinito

Guardado num local desconhecido há muito esquecido, bem lá no fundo no breu aveludado e negro mais profundo, num lugar especial, luzindo com um brilho mágico existe um bolbo misterioso.


Numa montanha muito alta, por caminhos duros, pedregosos e íngremes repletos de subidas e descidas, com ventos uivantes, rochas, bosques, lagos e florestas verdejantes e leves, há uma floresta mais densa e sombria.


Bem no meio dessa floresta, com cambiantes de verdes, onde a brisa expõe a luz e a sombra numa constante dança ondulante irrequieta, entre trilhos e veredas, com o frescor e aroma profundos a terra húmida, onde os pássaros cantam as suas aventuras e todos os animais se sentem em casa, há um fojo oculto aos olhares mais incautos.


Duas enormes rochas escuras desencontradas, centradas por uma árvore ancestral com o seu enorme tronco retorcido, pelo caminhar do tempo e enormes ramos de folhas, encobrem a entrada desta abertura para o ventre da terra.


Adentrando por corredores frios e húmidos, inúmeras cavernas e passagens labirínticas, cheia de câmaras secretas escavadas pelo tempo e pela água, com estalactites e estalagmites, lagos profundos, espelhos de água onde se vislumbram o passado e o futuro bem no fundo, indicia a verdadeira essência deste lugar antigo.


Contem corredores obscuros em que o vento levanta o véu e se ouvem murmúrios envelhecidos com som grave, quase grunhidos e uivos assustadores, que nem o coração mais valente sente coragem para ir mais além, onde poderá despertar seres negros, pisar algo poderoso que não quer ser perturbado, lugares pouco recomendados onde a alquimia da decomposição liberta odores fétidos que assinalam finais de ciclo.


Há lugares onde uma derrocada abriu janelas para o céu, por onde jorram cascatas tumultuosas e estrondosas, onde entra o sol e dentro forma-se um tapete luxuriante de plantas com flores e frutos exóticos, onde animais coloridos e barulhentos chamam casa, com cursos de água murmurantes que correm saltitantes e alegres para o interior da terra.


Mais fundo ainda, as paredes rugosas ondulantes esculpidas pelo tempo estão preenchidas com prateleiras escavadas na terra, em pedra, em madeira retorcida, metal ou vidro, juntando uma miríade de objetos de formatos, materiais e cores tão diversificados como, garrafas, vasos, frascos, potes, pacotes, recipientes, caixas de vários tamanhos, altos, baixos, esguios, chatos, redondos, quadrados, cúbicos, com ou sem tampa. Também se podem encontrar objetos em vidro transparente e cristalino como água, grosso, fino, ondulado, com muitas cores, pingentes, bolas de cristal, bolhas ocas, coloridos, rolhas em cortiça, em metal, ornados com figuras mitológicas, mágicas, animais ou plantas. Pelo meio há pipetas, conta-gotas, termómetros, telescópios, microscópios, lentes de cores, tamanhos e formatos distintas, lupas e muitos outros objetos cuja função é enigmática.


Numa câmara abaulada, a um canto, mais resguardado, localiza-se uma chaminé bem generosa onde cabe uma enorme fogueira, sempre acesa com brasas poderosas, onde assenta um caldeirão de três pés e dentro fervem as poções fumegantes e preponderantes, podem ver-se ainda por cima várias plantas secas, e numa grande mesa nodosa alfarrábios, pergaminhos e cadernos, e noutras prateleiras à volta, livros antigos, em várias escritas, com ou sem figuras, com ou sem palavras, ornados de letras antigas requintadas de numerosos tamanhos, formas ou colorações.


Todos estes objetos têm milhentos cambiantes de cores caleidoscópicas, desde o arco íris, do mais brilhante e ofuscante branco até ao mais profundo e absorvente negro.


Sentem-se vibração, sons da natureza como os de uma abelha quando encontra um local cheiinho de flores perfumadas e vem à colmeia dançar feliz para transmitir às companheiras de trabalho a sua localização, para daí criar o mais doce dourado e delicioso mel ou rugidos profundos procedentes das entranhas da caverna infindável.


Há locais onde se vê o laranja intenso do magma incandescente onde poças de lama criam bolhas de valor imensamente quentes, onde a água borbulha em temperaturas muito acima do expectável, o calor aí é tórrido e a humidade escorre por todos os poros da rocha vulcânica.


Um autêntico maravilhoso ou infernal labirinto, onde o mais incauto dos seres se perderá com certeza, encontrando múltiplas formas de perecer, onde até o local mais calmo pode levar ao eterno descanso inesperadamente.


A guardiã deste local é um ser ancestral etéreo, mais antigo que a mais antiga rocha. Este ancestral ser está coberto com uma capa adornada de pele e pelo como muitos animais, raízes, musgo e flores de muitas plantas, contendo aromas de todo o universo, ora quente ora frio como todas as estações. Abarca o negrume dos seres das sombras, a viscosidade húmida do fundo das grutas e das profundezas das águas, locais subterrâneos onde a terra se abre, assim como locais soalheiros e perfumados com os sons diurnos e noturnos de um dia e noites de verão.


Quem afirma tê-la visto nunca diria ser tão antiga, é deslumbrante, fabulosa, como uma bela feiticeira, etérea fada de olhar bondoso, iluminada por mil seres emanando luz ilimitada, há quem não consiga encará-la de forma alguma pois inspira terror aos corações menos puros.


Muitos queriam e ao mesmo tempo temiam lá entrar, cada um que o fazia e regressava para contar, trazia uma história distinta e quem os ouvia ia crescendo na repetição da história acrescentando mais colorido ou escuridão conforme a sua natureza.


No entanto, o mais almejado desejo era conhecer o tal objeto do fundo da gruta, o mais “cobiçado”.


Vinham de todos os lugares do mundo cheios de esperança, eram de todas as culturas, raças e com vários níveis de conhecimento, desde alquimistas, místicos, mágicos, pessoas de todos os ofícios.


Todos queriam saber desse bolbo e o que continha. Para que servia? O que era? Como era?


Havia quem se perdesse e quem se encontrasse na busca. As estórias eram contadas nas noites estreladas, frias, ao relento, à volta de uma fogueira por quem dizia lá ter estado e visto todas as suas maravilhas mágicas, mesmo que nunca tivesse saído do seu local de vivencia desde que nasceu. De cada vez que era contada era modificada ou acrescentada com a vivência, mesmo que imaginária, sujeita à criatividade de cada um.


É que, na verdade, as estórias naturais são intrincadas, selvagens e orgânicas… estão vivas…


(Inspirado num sonho em 2022 - Não tendo uma conclusão definida,

cada história fica para sempre no imaginário dos contadores e dos seus ouvintes.)

Comentários


bottom of page