Naqueles tempos antigos os reis viviam junto de tudo e todos, felizes, mas o rei da nossa história enviuvou e após a morte da sua amada esposa, o Rei Pekhi Phaseolus começou a definhar e adquiriu o hábito de tudo coletar.
Os aldeãos não podiam dizer que tinham algo que de pronto os guardas do rei vinham confiscar-lhes os bens, até uma meia rota o rei desejou, pois, o aldeão disse ter um buraco nela.
Com o passar do tempo a acumulação de “tralha” era tal, que o rei teve de se mudar para o seu castelinho no alto da montanha, de lá se via o céu, se via a terra, ao longe o mar. Lá havia mais espaço para guardar todas as coisas que vinha acumulando.
Os seus conselheiros não conseguiam obter quaisquer resultados para o animar ou para lhe retirar este novo hábito de acumulador, as pessoas já lhe chamavam de Pekhi Phaseolus “o saqueador”. Assim, e para ajudar nesta demanda resolveram chamar as suas quatro sobrinhas a quem o rei muito apreciava.
Do reino do norte veio Voúrtsa Mallión acompanhada dos seus três deslumbrantes ursos, do reino do sul veio Filum Urdir com o seu tear encantado, do reino do este veio Pisum Harā com o seu herbário mágico e do reino do oeste veio Saula Úl-San com o seu fantástico caldeirão.
Preocupadas com o tio também experimentaram um pouco de tudo, pediram, ameaçaram, choraram, fizeram poções, magias, encantamentos, feitiços e o resultado não alterava a predisposição do seu tio.
O rei ia definhando de dia para dia, uma vez que já tudo tinha sido tentado. Eis senão quando Voúrtsa lembrou-se da sua escova com que penteava os seus formosos caracóis louros.
Dizia uma lenda antiga que esta escova retirava crenças e ideias enraizadas a quem a usasse durante um ciclo lunar completo. Começava na lua disseminante, por retirar ideias e crenças, após a lua negra devolvia as noções certas e terminava na lua cheia completamente curado.
Foi então que as quatro primas elaboraram um plano. Que o rei ficasse com a escova foi fácil, para tal bastou dizer que tinham uma escova e logo ficaram sem ela.
O busílis era pôr o rei a pentear-se pois era completamente careca.
E agora? Como fazer um rei calvo pentear-se?
Experimentaram dizer que tirava piolhos, mas o rei achou que por ser careca não os poderia ter. Ofereceram-lhe uma peruca que o rei não usava e quando insistiram para tal ele penteava-a no suporte e não na sua própria cabeça.
Até que se lembraram de dizer ao tio que aquela escova era mágica e fazia crescer o cabelo, para isso só tinha de a passar pela careca da forma que lhe explicaram tintim por tintim.
E foi assim que ao longo deste ciclo lunar o rei foi caindo em si e percebeu o quanto estava errado, longe de tudo e todos.
Para ser um bom regente não precisava ter muito, bastava estar atento e presente aos seus súbditos, amigos e família. Compreendeu que para ser um bom governante não precisava de acumular riqueza, bastava-lhe apenas ter o amor das pessoas que o rodeavam.
Assim, devolveu tudo aos respetivos proprietários, até a meia rota, e voltou para a sua casa na cidade, todos ficaram muito satisfeitos pelo restabelecido juízo real e fizeram uma festa em homenagem às quatro princesas.
Durante uns tempos as meninas ainda ficaram por perto para apreciarem a total recuperação do seu estimado tio e quando as saudades dos seus reinos as chamaram regressaram cada uma para sua casa no norte, sul, este e oeste.
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